O disco Pram Town, ao contrário do que disse na resenha, é inspirado na cidade de Harlow, e não na cidade onde Darren Hayman cresceu, que é Brentwood. Desculpa.
Boa noite.
Darren Hayman & The Secondary Modern
Pram Town
(Independente; 2009)
Uma ópera folk é um belo parêntesis para o mais recente lançamento de Darren Hayman com o Secondary Modern. A ópera do disco é conectada do início ao fim pelo local, Pram Town, apelido de uma cidadezinha inglesa suburbana onde Darren cresceu. O folk fica por conta da banda de apoio, o Secondary Modern, que eleva a graciosidade do desengonçado Darren lá pro alto. Há muito banjo, lances de metais e nada é exagerado, folk apenas nesse sentido, pois não há nada para assustar ou afastar um fã de Hefner aqui, a simplicidade das canções continuam a mesma – brit pop tocado com banjo – e, em Pram Town, Darren recebe um tratamento digno nos arranjos. Ao contrário do disco anterior com o Secondary Modern, o auto-intitulado de 2007, os arranjos ornamentam as canções e não acompanham como se Darren fizesse parte da banda. Ele sempre será um ser à parte em qualquer música que fizer.
No site oficial de Darren, ele diz que “Este disco é sobre boas idéias que deram errado. É sobre como o orgulho pode te fazer perder seu amor. É sobre muita e pouca ambição e o espaço entre os dois”, em uma tradução bem livre. Quando a última nota de Pram Town é tocada, eu penso: “Puta merda. Cadê o desespero geek? Calma ai, que disco bonito. Mas cadê a exaltação? Olha, acho que estou calmo. Mas e as letras amorosas sexuais e/ou desesperadas? Estou confuso”. Play de novo.
“Civic Pride” abre o álbum numa marchina triste, a bandinha solitária desfilando por Pram Town. Essa sensação permanecerá por todo o disco: Darren na frente marcha e guia (sem a convicção de um líder) e a Secondary Modern segue atrás, “Pram Town”, a faixa, introduz a cidade; “Compilation Cassette” começa a mostrar outros personagens e “Losing My Glue” é uma dancinha exaltada e solitária pelas ruas de paralelepípedo. E quando aparece “No Middle Name” com seu banjo incessante e Darren soletrando nomes em tom de desespero tão contido que torna tudo mais desesperador do que o tom explícito do Hefner, o disco atinge seu ápice.
Mais centrado, Pram Town é o melhor disco de Darren Hayman desde We Love The City (2000). “Our Favorite Motorway”, “Out of My League”, “Amy and Rachel”, “Fire Stairs” e “Never Want To Be That Way Again” complementam as faixas já citadas e transformam esse disco, que fatalmente será ignorado, em uma pequena pérola brtânica livre de ironia e de exaltação gratuita de qualquer lado, dele e de outros. Ele é apenas bonito, triste e, acredito eu, histórico pessoalmente para Darren. Cantar sobre idéias que deram errado, orgulho e ambição do subúrbio onde cresceu com um resultado tão belo não é para qualquer um. Sua marcha continuará solitária, com poucos flashes e seguidores, mas estarei o acompanhando da minha janela do terceiro andar. Chora, Darren.
– Denis Fujito
Nota:
Pequenas obsessões. Vamos falar muito disso por aqui.
Denem anda meio obcecado com os filmes do Billy Wilder, já que baixou mais de 10 filmes dele recentemente. E eu entendo o porquê. O filme que vou falar é The Apartment, de 1960.
me: Denem, eu estava vendo “The Apartment” hoje às 6h da manhã..
Denis: haha sim! passando aonde?
me: Aluguei. Ontem estava passeando com o Otto, e estava um vento meio frio. E lembrei desse filme. Aí aluguei naquela locadorazinha de bairro.
Denis: e viu inteiro?
me: Sim, vi hoje de manhã. Tomando já, de pijama hahaha. Ops. CHÁ. Chá de pijama.
Denis: perfeito. Invejei. filminho logo de manhã. e gostou ou não?
me: Sim. Esse filme é perfeito. Típico filme que me interessa.
E que deixa o dia melhor.
me: A Shirley McLaine às vezes é muito agitadinha e irritante. Mas eu gosto muito dela.
Denis: eu baixei vários filmes do billy wilder, se quiser emprestado depois
tipo uns 10.
me: Claro, eu quero!
Você está voltando para sua casa depois de um dia inteiro de trabalho duro. Está chovendo e faz frio. Você só quer um prato de comida quentinho (mesmo que seja de comida congelada) e suas roupas estão encharcadas. Seus vizinhos são chatos e intrometidos. Sua casa está uma zona. Você não tem ninguém e seu apartamento anda dando pequenos “problemas”. E isso só tem alguma chance de melhorar se aparecer uma Shirley MacLaine na sua vida.
Acho que você deveria assistir esse filme. Por nenhum outro motivo a não ser te entreter.
Denis: e vários filmes do billy são com o jack lemmon. ele é muito engraçado.
me: Ele é. Você viu um filme com o Jack Lemmon que ele se veste de mulher junto com outro cara? É com a Marylin Monroe. Não lembro o nome. Esse é bem bom.
Denis: sim! é do billy wilder também. esqueci o nome agora.
me: Droga, quero lembrar. Ache aquii! O filme chama “Some Like It Hot”. Ele faz o papel da Daphne.
Denis: haha. isso! some like it hot e o outro com a marylin, o seven year itch e sensacional também vou te emprestar todos. foda que tem uns suspenses no meio. um outro com uma história bizarra.
me: Com certeza.. quero todos!
Talvez Billy Wilder seja assunto para próximos posts ainda. Quem sabe… né, Denem?
Black Dice
Repo
(Paw Tracks; 2009)
Dançar muitas vezes é necessário. Todo ser humano sabe disso. Você pode até fingir para seus amigos e colegas de trabalho que não faz isso. Você e seu terno cinza velho e sujo. Mas você não pode mentir pra você mesmo. Não é justo. É por isso que todo mundo dança. Seja numa pista de dança ou sozinho no chuveiro. E é por isso que Repo, o sétimo disco da banda nova-iorquina Black Dice, é dançante. Bem, quase. Você sabe que o termo dançante varia muito de pessoa pra pessoa.
Eu acho a maioria dos discos do Black Dice complicados de serem ouvidos. São cabeçudos e certamente não são pra qualquer hora. Talvez o meu cérebro não esteja mais funcionando como antigamente, mas eu poderia facilmente ouvir Repo durante meu café da manhã, indo pro trabalho e até mesmo pra relaxar no fim da noite. Isso sem contar os momentos de dança solitários que acontecem nos meus sonhos.
“Night Cream”, como o nome indica, coloca você deitado na sua cama às três da manhã, derretendo de calor e virando um creme. É quase um pesadelo, não fosse o fato de que a gosma derretida do seu corpo tem cheiro e gosto de baunilha. Você fica confuso, mas feliz. Quando chega “Blazin” é a hora de dar risada e de abandonar a tentativa de classificar o troço todo. “Earning Plus Interest” tem uma batida reta! Dá até pra fazer trenzinho na sala de casa.
“La Cucaracha” é uma das melhores do álbum. Como se, de repente, o Animal Collective estivesse com vontade de fazer música sem voz e um pouco menos politicamente correta. Se estivéssemos todos em uma festa, “Idiots Pasture” seria o momento em que os garotos, vestidos com máscaras de caveira, tomariam as meninas pra dançar. Em “Lazy TV” eu consigo visualizar a Xuxa botando fogo em sua nave e cantando pros baixinhos. É a típica música que dá medo, mas que é impossível de passar pra frente.
O disco segue com uma estranheza agradável, que não chega a machucar ouvidos mais acostumados com músicas pop. Tudo parece estar desafinado, é verdade, mas não há como negar que o pacote é natural, simples e flui bem. A penúltima faixa do disco é “Ultra Vomit Craze”, outra que funciona perfeitamente bem numa pista de dança, se ignorarmos o fato dela ter mais de seis minutos. “Gag Shack”, a décima quarta, é curtinha e fecha o disco sem frescuras, com direito até a palminhas.
Pra mim, é como se Repo fosse a trilha sonora perfeita da caminhada para ao inferno. Supondo-se que o inferno seja o melhor lugar pra se morar e que o caminho até lá seja bem agradável, é claro. Admito não ter capacidade mental suficiente pra julgar se esse é o melhor disco do Black Dice. Mas Repo já é um dos meus álbuns preferidos de 2009 e certamente o que mais gosto dos que já ouvi da discografia do grupo.
– Six
Nota: