Poder caminhar é uma beleza. A simples possibilidade de andar e contemplar e perceber e comparar faz da sua vida muito mais cabível. Andar é ter a possibilidade de ver um portão que destoa de todos os outros portões que você já viu na vida e entender que você não viu portões suficientes em todos os quilômetros percorridos por suas pernas. “For Marmish Part II” me fez perceber numa caminhada desesperançosa que eu não entendo nada de portões. (Denis Fujito)
Que baixo, que produção e que voz. “I’m Still Here” vem para resumir a carreira de Sharon Jones, sonorizar o filme sobre sua vida, Miss Sharon Jones!, e mandar a mensagem: ela ainda está aqui. Quando Sharon e os Dap-Kings acertam é difícil segurar os pés. Difícil não ter a certeza que o soul é tudo que importa nesses 4 minutos. (DF)
Blu e Nottz estão de volta com um EP inteirinho, chamado Titans In The Flesh, mas a suavidade de “The Truth”, faixa que abre o disco, é o que por enquanto me pegou pelo pescoço. Pela suavidade e pela batida simples e lo-fi, a canção poderia tranquilamente encerrar todo e qualquer longo dia de trabalho, me levar para casa como uma nuvem voadora. (DF)
Wilco, Schmilco. Novo disco em vista, novas canções aparecendo e velhas emoções aflorando. Foi bom eles terem aparecido despreocupados ano passado com um disco chamado Star Wars, estampando um gato na capa e canções breves e bem pop, mas melhor que isso é ouvir o Wilco fazer o negócio de sempre deles com mais preocupação também, com beleza, com a bateria leve de Glenn, com os solos lindos do velho, com o clima mais country e Jeff acalmando corações. (DF)
A última vez que ouvi falar de Cassius foi quando revi Cavaleiros do Zodíaco no ano passado. Mentira, o nome Cassius Clay também foi bastante comentado no mês de junho. Mas eu não ouvia falar de Cassius, o duo francês, desde quando escutei Cat Power pela primeira vez na vida no começo dos anos 2000. Por isso não sabia o que esperar de “Feel Like Me”, nova faixa que conta com a bela participação de Cat. Só de escutar a faixa e perceber que Cat Power conseguiu se renovar sem perder a melancolia de sua voz, diria que essa parceria valeu a pena. Diria que Ali derrotou Seiya. (DF)
O novo disco da Sharon Jones & The Dap Kings, parado desde o meio do ano passado por conta do câncer nas vias bilares da cantora, finalmente viu a luz do dia neste começo de 2014. Com ele e com o drama que é ver uma pessoa, próxima ou não, enfrentar a doença, seria muito fácil começarmos a fazer associações simplistas, ver mensagens nas letras das músicas e etc. A própria Sharon Jones fala sobre isso nessa entrevista e apenas ela poderia fazer esse tipo de associação, mas a verdade é que eu não consigo associar de modo algum o álbum ao processo ou ao descobrimento do câncer na vida de Sharon, pois Give the People What They Want é um disco de soul leve.
Uma surpresa, pois apesar de ter lançado ótimos discos desde o começo de sua carreira, sentia que Sharon Jones parecia depender muito de sua credibilidade como diva do soul moderno. Apesar de “Retreat!” começar com grande influência de Aretha Franklin, Give the Poeple explora outras áreas do soul com a ajuda dos sempre precisos Dap-Kings, mas, principalmente, com o destaque dos backing vocals de Saundra Williams e Starr Duncan, as Dapettes.
“Stranger to My Happiness” brilha com a aparição pontual das Dapettes ao longo de toda a faixa. “We Get Along”, de guitarras leves e pequenas pausas, remete aos Manhattans de “Foloow Your Heart”, enquanto “Get Up and Get Out” traz toda a simplicidade das Marvelettes e das Supremes à mente. “Now I See” ainda se encaixaria muito bem no último disco de Janelle Monáe e “People Don’t Get What They Deserve” se destaca quase no fim como uma das faixas mais dançantes e pop da carreira de Sharon.
Não sei em quem Sharon Jones estava pensando enquanto fazia Give the People What They Want, mas o disco é exatamente o que eu queria de alguém com a qualidade e potência de Sharon Jones e de todo o Dap-Kings. Um soul potente nos momentos certos, mas, principalmente, extremamente leve, dançante e bonito. Talvez o meu preferido dentre os cinco da cantora.
“Stranger to My Happiness”